quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ensaio V


Assim se desenrola
O fio da vida.
Parece às vezes perdida
Mas depressa se cola.

É o fio que une
A alma e o coração,
O sentimento e a razão,
E nos deixa imune

À mágoa e à tristeza,
Das lágrimas de saudade,
Daquelas que em verdade
Nos enchem de incerteza.

Percorre, este fio,
Certezas e dúvidas
Nem sempre resolvidas,
Não sei bem, desconfio,

Se não percorrerá
Também montanhas e rios,
Segredos esguios,
Tudo isso quanto há

Na caminhada
Rumo ao horizonte.
Onde do céu o mar inrompe
A cada alvorada.

domingo, 9 de março de 2008

Farol...



Do aperto cá dentro
Escoam algumas lágrimas.
Daquelas de quem, por certo,
Apenas tem o facto de passar
Pela vida só.

Ao largo é, distante,
Farol na praia dos desafortunados,
Imagem robusta de solidão
Que convida ao prendimento
De sorrisos tristes.

Ilumina, esse Farol, a imensidão
Da vida ao redor.
Ainda que alcance ninguém,
É fogo fátuo, nada mais
Que bruma e nevoeiro.

É fronteira entre sono e sonho.
Aconselha ao desalinho,
À dispersão, por entre a solidão
E a vida, é eclipse solar constante,
Sou eu...



sábado, 8 de março de 2008

Rascunho II




Continuo deambulante, escondido
Pela sombra da escuridão.
Ainda, e talvez para sempre, perseguido
Pela escureza da solidão.

Não me larga o destino
De estar sozinho.
Sem mais nada, desatino,
A cada dia, neste caminho

Que me leva à encruzilhada
Onde me trocam as voltas,
Da caminhada desalinhada
De desventuras soltas.

Sinto um peso no peito,
Como se o Mundo
Me arrastasse para esse estreito
Lugar algures no fundo

Onde nem a luz da Lua,
Essa eterna companheira fiel,
Ilumina o medo que não recua,
E é como se fosse uma outra pele.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Desilusões...



Já não ouço o bater do coração,
Em vez dele apenas as lágrimas
Que escoam para o abismo
Que tomou o seu lugar.
É pena que a desilusão
Acompanhe a vida, as páginas
Que nos levam mesmo
Sem saber se vamos chegar.

A cada desilusão a Existência
Fica mais deserta de mim,
Eu mais deserto de tudo.
E o deserto mais imenso.
Manda a consciência
Que não seja tanto assim
E apenas que no fundo
O viver seja mais intenso.

Assino por baixo a rendição,
De a cada dia, a cada queda
Ser mais forte, ser maior
Sem que sequer
Mais uma ou outra escuridão
Ser responsável da perda
Do meu ser ou valor,
Daqui até envelhecer.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Sono...




O sono da solidão
Dorme sempre comigo.
Sem querer dá-me a mão,
Faz-se de meu amigo,
E acompanha-me ao serão.
Leva a minha alma e coração


Para um lugar desconhecido,
Ao relento de qualquer musa,
Como se fosse o sentido
Do caminho que cruza
A minha vida, perdido,
Sigo em frente, fugindo

A esta condenação suprema
De um juíz que não recorre
À justiça, enferma,
Que minha vida percorre.
Sem qualquer rumo ou lema
Deixando-a assim...amena!

Sonho assim com esperança
De a vida se voltar
Numa direcção de mudança.
Tanto que se calhar
Ergue-se ao longe a confiança
E do passado fica apenas...lembrança!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ensaio IV



Quando a solidão acorda
E invade os Subúrbios de escuro,
Fico a meio da corda.
A pensar como será no futuro,
Como será depois do muro!

Acompanha-me o silêncio
Como força deste mundo.
Ouço apenas um imenso
Grito que parece mudo
E que resume, o tudo

Que é a vã existência
Nestes meus Subúrbios.
Em que nada há mais que ausência
E destes amargos silêncios,
Que insurtecedores, imensos,

Preenchem a rotina,
Como se fosse a normalidade
Sem que sequer a matutina
Escuridão desse lugar à claridade.
Tão só, a verdade!

Desejo então o infinito!
Cheio de uma coisa qualquer.
Além desta solidão fito,
Sem hesitar sequer,
A vida, a alma e o crer!