sábado, 17 de novembro de 2012

Ensaio XIII



Por estes dias revisito as minhas memórias.
Tantas...e algumas apenas o são,
Porque nelas estão coladas histórias
Que me aquecem o coração.

Pedaços de tempo com gente dentro
Emoções ligadas a lugares, a espaços
Que não desaparecem com o passar da vida, centro
De comando do que fica lá, segue os passos,

A vida, do que é importante e deixa
Todos os pedaços e mínimos pormenores.
Como quem coloca um tesouro numa caixa,
E a deixa bem escondida algures

Entre a luz e a sombra,
Entre o sorriso e a saudade.
Sempre sem deixar que a penumbra
Leve a melhor sobre a claridade.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ensaio XII




















Ouço sempre os olhares,
Tal como ouço os silêncios
Nas entrelinhas dos sorrisos ímpares
Que contemplo ao meu redor.

Porque um olhar pode dizer tudo
Sem precisar de mais explicação.
É mesmo assim, um grito mudo
Que esclarece qualquer bom entendedor!

E para sê-lo basta abrir o peito
E deixar a coragem agarrar
O significado de cada olhar, ainda que esse feito,
Nos encha o coração de dor.

Pois um olhar não consegue mentir.
É algo que se torna intemporal,
Como a impressão digital do sentir.
Seja que sentimento for...

Sigo a estrada ao relento
De todos os olhares, na esperança
Que valerá a pena estar atento
Ao que me dizem...sem temor!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rascunho VIII


Quando choro já não caem lágrimas,
Em vez disso soltam-se versos, lamúrios
De uma voz em silêncio, rimas
Que procuram expiar fados e sombrios augúrios.

Apago então tudo quanto me rodeia.
Deixo só ao fundo o barulho do mar
Em torno do perfume de Esteva, e na ideia
A imagem de uma bela noite de luar.

Deito-me sob a sombra de uma insónia,
Embalado por pensamentos sem fim
Sobre a causa de tal inquietação, ironia
De um destino que não controlo...Enfim,

Desassossego quando procuro a paz,
Sobressalto quando queria conquistar o pleno
Da serenidade, rebuliço que apenas trás
Alguém que não conheço...[Eu?]

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Rascunho VII


Registo todos os dias cinzentos,
Porque a vida nem sempre é a cores.
Guardo, mesmo assim, todos esses momentos
Como guardo o perfume de todas as flores.

Por estes dias algo aperta o meu peito
E deixa-me quase sem poder respirar.
Invade de insónias a hora a que me deito
Deixando, qual tormenta, apenas a incerteza no ar.

Não sei quanto tempo mais irei resistir.
Ao que se instalou na Existência.
Sucumbirei em breve e restará apenas ir
Onde me levar essa essência...

Ao menos que seja a sorrisos especiais,
E a abraços daqueles que nunca se esquecem.
Beijos ternos, gestos meigos e tudo mais
Que guardaria como se tesouros fossem.

Por enquanto, apenas me acariciam o rosto,
Lágrimas e uma esperança algo vã.
Chove no meu olhar mas não mostro,
Prefiro sorrir e esperar por um novo amanhã.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ensaio XI


Recostado neste silêncio fito
O horizonte, que não é mais que a vida,
Onde se encontra inscrito
O perfil da Existência, interrompida
Por fugazes nuvens e onde a escuridão

Esconde a luz que guia os meus passos.
Não sei de onde vem a força que me levanta
A cada manhã, a cada dia, e sigo os traços
Do esboço da alma, qual manta
Decorada com os feitos do coração

Que carrego dentro do peito.
Parece a vida querer por-me à prova,
Num constante desassossego que respeito,
Mas...Será eterna esta dúvida que se renova
A cada etapa? Qual a razão

Para este constante turbilhão à deriva?
Resta-me continuar jornada após jornada,
Desafio após desafio e lutar, na tentativa
De vencer enfrentando a longa caminhada,
Sempre com um sorriso no rosto, imensidão

Deserta que me leva de novo...à vida! 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ensaio X




Resgatei o meu coração,
Depois de o ter mandado ao mundo.
Mais uma vez não voltou inteiro,
Nunca volta, e a cada ida o profundo
Suspiro em vão, marca certeiro

A chaga de mais um turbilhão.
Que atordoa a réstia de lucidez
Guardada a cada volta dessa viagem.
Onde o destino final, a Existência,
Funciona tal qual a vertigem,

Que me leva sempre à razão.
Pergunto-me se algum dia se perderá sem volta,
Encontrado por alguém que o guarde
Num lugar onde brilhará solta,
Essa luz que entretanto, apenas invade

Os meus dias de solidão.
Fica por ora o receio de mais investidas
Pois cansado, estilhaçado, ferido
Não aguentará mais batalhas perdidas.
Inevitávelmente só, repetidamente perdido.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ensaio IX
















Ficou a névoa outra vez...
Apesar dos raios de sol
Que invadiram a Existência, desfez
De novo, a vida, a oportunidade de haver luz.

Qual fado de um alma condenada
À escuridão perpétua, noite
Acesa sem hipótese de alvorada,
De redenção, cativa dentro dessa muralha

Que não é mais que uma corrente
Ancorada ao abismo da solidão.
Quando acabará a tempestade? Urgente
Pedido faço, eu, que sou

Nada mais que o vazio entre a razão
E a emoção, mascarada de cadafalso,
Onde perco a batalha frente ao coração.
E vislumbro apenas...névoa!